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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Segundo monólogo em dialética

Nota: isto consiste em uma tentativa de me tranquilizar frente a meu pavor. A dialética se configura a partir dos dois polos de meu cérebro defeituoso - um extremamente racional e um extremamente emocional (e estúpido).
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Pergunto-lhe: quando hei de falecer?/ Morrerá ao décimo nono ano./ Quando?/ Não sei ao certo./ Há escapatória?/ Não há escapatória do destino que a aguarda./ Não creio./ Não crê, mas teme, e se teme, receia./ Causa mortis?/ Desconheço-a./ Como então a certeza?/ Respondi à pergunta que me foi inicialmente lançada, e nada mais./ Como responder sem embasamento ou quaisquer explicações?/ Como perguntar o que não pode ser embasado ou sequer explicado?/ Pergunto por medo./ Medo, receio./ Como saber se tal precisão não se deve a puro temor?/ Acredita no que teme, seleciona a verossimilhança das respostas./ O que prova que tudo isto nada prova./ A prova está no evento, o evento não ainda houve./ A morte é o evento?/ É o evento temido, o motivo da ânsia por respostas, a motivação da pergunta./ Creio no que temo ou temo o crível?/ Crê em minha afirmativa perante seu questionamento?/ Não quero fazê-lo./ No entanto o faz, na medida em que sabe que nem tudo o que se quer é adquirido./ Nisso deposito minha crença./ Justamente essa crença a origem da dúvida sobre a credibilidade da informação que, a contragosto, de mim recebeu./ Quão verossímil é, pois, a hipótese?/ Hipótese do destino?/ Não há outra a me perturbar./ Acredita em destino?/ Acredito na lógica, e a lógica não o permite./ Contradiz os princípios lógicos a morte precoce?/ A certeza da precocidade os contraria./ Disse-lhe que tenho a certeza, como é possível?/ Se sua certeza for projeção de meu temor, tudo isto é válido, basta o argumento de que projeções nos conduzem ao irreal./ Está delirando?/ Estou?/ Quão delirante é perguntar a si mesma sobre seu futuro fim?/ Futuro, futuro é hipotético apenas, não presencial./ No entanto, indagou-me a respeito de tal tempo./ Indaguei-lhe, posto que estou temerosa quanto ao que me aguarda./ Aguarda-a? Ou pode aguardá-la?/ Não, não pode./ E por que não?/ Aguardar implica deter conhecimento prévio sobre o que lhe virá ao encontro./ Não lhe aguarda a morte?/ Como poderia, se o fim de minha existência depende da trajetória seguida?/ E se fosse a morte a constante universal?/ Irrefutável? Irremediável?/ Imutável./ Se a morte é constante e termina as existências conforme planejamentos anteriores, de mim não dependem as circunstâncias finais, do caminho percorrido não se origina o resultado./ E qual a significância da ponderação?/ Destino é regente da duração de um ciclo vital./ Destino, afinal, consiste em uma ideia ou na realidade?/ Não poderia eu dizer que corresponde à realidade, se é real minha crença no encadeamento lógico, o qual não abre margem a ocorrências ou 'fatos' impossibilitados pelos recursos disponíveis ao cultivo do ser./ Destino é irreal?/ Única tese suportada por aquilo em que acredito, aquilo que provou, até os dias vigentes, apresentar total domínio sobre o que acontece ou deixa de acontecer./  Não pode crer em duas vertentes paradoxais entre si simultaneamente, então./ Não posso, é ilógico./ Por que razão haveria, dito isso, de me questionar sobre o que ninguém pode saber, e, ainda que o pudesse, a mim não seria viável, se sou você e você nada sabe?/ Faço-o por puro terror, terror do final. Aflijo-me diante da incerteza./ Incerta, aflige-se com o que, segundo seus próprios princípios, não é determinado? Aflige-se por estar incerta quanto ao incerto?/ Ao que parece./ Perde seu tempo, tempo irrefreável e irreversível, perde o presente, o único correspondente ao real. Quanto mais o perde, menos falta para que enfim desfaleça, gasta-o com preocupações, sob sua ótica, inúteis./ Verdade. Por que me respondeu de início?/ Minha resposta foi imediata, deliberadamente programada pelas valas inacessíveis de sua psique./ Não foi o que lhe perguntei agora./ Apresentei-lhe o arbitrário a fim de aquietar o terror do não-conhecer./ Todavia, ao passo que o fez, acionou outro medo, ainda mais devasso que o primeiro. Por que me torturar?/ Lancei-lhe um absurdo lógico para que compreendesse a invalidade de seus pensamentos acerca do fim. Incomodei-a, sim, para que, perante a suposta iminência de seu desligamento total, não desejasse nela crer, e, perante a ausência do desejo, ignorasse o medo. Superasse-o. Esquecesse-o. Parasse de desperdiçar o tempo restante./ Não consigo imaginar minha inexistência./ Justamente. Parece-lhe próxima?/ Não visualizo proximidade./ Pois deveria, se efetivamente tomasse minha palavra como verdade absoluta./ Logicamente, não a tomo./ Não. Não lhe serviu de nada o desespero./ Não me serve./ Não lhe servirá. Esse futuro é o absoluto. Não lhe servirá pedir que alguém preveja o imprevisível, especialmente se o alguém não for sequer outro indivíduo, mas outra parte de sua mente./ A parte sensata, ao que vejo./ A parte lógica./(Silêncio.)
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Apple & Apple, 22/08/2011

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